Hoje, voltando a abordar os malefícios da inflação dos alimentos sobre as camadas mais pobres da população, propus a criação de uma comissão de alto nível, composta por integrantes do Governo e do Congresso, para apontar alternativas à atual política monetária de juros altos e crescimento do superávit primário. Entendo que o costumeiro e amargo remédio de juros altos, como forma de combater a inflação, só incentiva o capital especulativo e não permite um crescimento econômico produtivo sustentável.
Além disso, também não promove a desconcentração de renda, ao contrário, contribui para tornar cada vez mais distante a diferença entre os mais ricos e os pobres. Continuar a aumentar os juros e o superávit primário é premiar a desvairada especulação, e o balanço de pagamentos do país ficará desequilibrado.
Todos nós sabemos que, a partir da hora em que a conta comercial também ficar desequilibrada, as divisas encolherem, virá o estouro da boiada, a fuga maciça de capitais agiotas e o governo só sairá perdendo.
Em meio a um quadro social mundial grave, em função da alta dos preços dos alimentos e, com uma crise de petróleo que veio para ficar, contribuindo ainda mais para elevação daqueles preços, há urgência na tomada de atitudes assertivas, que são o aumento da produção de alimentos e da produção industrial em geral, a plena expansão do mercado interno, da renda da classe trabalhadora e da inclusão, porque é essa a nossa urgência: a dívida social.
Reconheço que o governo está reagindo à crise dos alimentos e ao processo inflacionário, lançando o Plano Agrícola e Pecuário (PAP), através do qual abriu linha de crédito agrícola no valor de R$ 65 bilhões, para incentivar a produção de alimentos e promover a liquidez do produtor. Mas se houver um arrocho nos juros – maior do que já se tem – o incentivo será para o capital especulativo e não haverá crescimento estável.
Na tribuna do Senado citei relatório da ONU, que é um exemplo da necessidade de melhor divisão da renda, o que não acontece quando o capital especulativo é incentivado. De acordo com este documento, se não diminuirmos urgentemente a distância entre as camadas ricas e a enorme massa pobre, não haverá crescimento nem equilíbrio social que se sustentem.
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