Quando o nosso organismo processa os alimentos que consumimos, são gerados no interior de todas as células, subprodutos dessa queima, alguns dos quais são moléculas instáveis e que em excesso são daninhas uma vez que irão oxidar moléculas estáveis e que são parte do funcionamento normal da bioquímica interna do corpo.
Aqueles compostos instáveis possuem alto poder oxidante e são conhecidos, de uma maneira geral, pelo nome de radicais livres. Esse processo lembra aquele que ocorre quando retiramos a casca da maçã e a deixamos exposta ao ar: ela se oxida (reage com o oxigênio do ar) e fica escura. Os radicais livres atacam a membrana celular criando paulatinamente dificuldades para a entrada e saída de substâncias e, por essa e ouras vias, aceleram o envelhecimento celular.
Em síntese, a reação dos alimentos com o oxigênio (queima) que ocorre incessantemente em todas as células do nosso organismo, gera substâncias de carga negativa, as quais, desde que em excesso e por conta de sua extrema instabilidade química, reagem com partes saudáveis da própria célula. O resultado final é desastroso e ocorrem lesões cumulativas contra o próprio DNA. Não sobreviveríamos muito tempo se o nosso organismo não contasse com enzimas protetoras que contra-atacam o excesso de radicais livres; se a alimentação é saudável e equilibrada, o próprio organismo nutrido pelos fatores anti-oxidantes de certos alimentos, poderá ser capaz de neutralizar o excesso desses subprodutos gerados internamente.
Esta capacidade do nosso organismo de neutralização dos radicais livres é crucial e faz toda diferença entre saúde e doença e aceleração ou não do próprio processo de envelhecimento. Acumulam-se pesquisas mostrando que existe uma relação direta entre o excesso de radicais livres no nosso organismo e processos como o surgimento de câncer, doenças crônicas, o enfraquecimento do sistema imunológico e doenças crônico-degenerativas que são incapacitantes e terrívelmente comprometedoras da qualidade de vida na terceira idade, além de estarem implicados com o processo de envelhecimento precoce da pele e das células em geral.
Pelo menos cinqüenta doenças diferentes parecem associadas ao excesso de radicais livres. Há fortes indícios de que o bombardeio constante e excessivo do DNA das células pelos radicais livres favorece o aparecimento de células cancerígenas. Catarata, degeneração macular da retina, diabetes, imunossenescência (enfraquecimento da imunidade), mal de Alzheimer, doença de Parkinson, artrite, arteriosclerose, derrames têm relação com excesso de produção de oxidantes nas nossas células através do processo metabólico cotidiano. Ao mesmo tempo, os danos produzidos pelos radicais livres podem ser irreparáveis a partir de um certo ponto e o seu efeito é cumulativo. As pesquisas a respeito continuam, há controvérsias, mas a correlação de pelo menos cinqüenta doenças diferentes e o excesso de radicais livres já vem sendo estabelecida de diferentes maneiras. Em suma: as pesquisas médicas mais recentes vêm reforçando a tese de que é crucial que os radicais livres em excesso no nosso organismo sejam implacavelmente neutralizados.
A capacidade do nosso organismo em neutralizar a massa de substâncias oxidantes – ou radicais livres – produzidas durante a queima normal dos alimentos nas nossas células pode se ver prejudicada gravemente através de duas diferentes maneiras: ou pelo consumo de alimentos problemáticos cujo poder de produção de radicais livres é acima da média, ou por fatores que podemos chamar de “externos” e que geram radicais livres no nosso organismo como é o caso da nossa eventual exposição excessiva ou fora de hora ao sol.
Em outras palavras, uma alimentação errada pode levar ao excesso de produção de radicais livres pelo nosso organismo, mas isso pode também ocorrer por conta de fatores externos como radiação ultravioleta do sol, poluição e o próprio estresse.
Aqui é preciso que se leve em conta um dado crítico: a adoção de uma alimentação mais saudável e equilibrada é essencial no combate ao acúmulo de radicais livres, mas ela, por si só, pode ser impotente se aqueles fatores externos não forem controlados.
Em qualquer caso, a alimentação tem um papel importantíssimo. A melhor proteção contra o excesso de radicais livres produzidos internamente pela queima normal dos alimentos vem a ser o uso regular, abundante e variado de frutas diversas, de hortaliças cruas, de cereais integrais e leguminosas. Com uma dieta mais baseada nesses alimentos crus e integrais, o nosso corpo terá capacidade de neutralizar quase 100% dos oxidantes produzidos incessantemente pelas nossas células.
Gilson Dantas, médico
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