O desenvolvimento da pesquisa em ciência e tecnologia não tem acompanhado o crescimento econômico acelerado que o Brasil vem conseguido nos últimos anos, o que está provocando falta de mão de obra para postos de trabalho especializado. O fato me preocupa sobremaneira, e hoje fui à tribuna para falar do risco de um “apagão” de mão de obra, se governo e empresas não investirem mais em qualificação e em especialização da força do trabalho que ingressa no mercado, bem como na maior valorização dos profissionais especializados.
São múltiplas as causas da falta de mão de obra qualificada no país: elas vão desde a escassez de cursos acadêmicos de qualidade, até questões de remuneração, passando pela falta de diálogo entre mercado e as instituições de ensino superior. Aqui, com raras exceções, mercado e academia estão de costas um para o outro, quando deveriam atuar em estreita parceria, já que é o mercado que absorverá a mão de obra que a academia prepara.
Citei, em meu discurso, o professor Jacob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências, que vê no excesso de burocracia para recrutar especialistas estrangeiros, que podem proporcionar um “up grade” significativo ao país, como outro complicador para que o país consiga rapidamente a qualificação para postos de trabalhos mais avançados. De acordo com Palis, as instituições de ensino acham que os estrangeiros vão ocupar o lugar dos brasileiros quando, de fato, podem contribuir para aprimorá-los e multiplicar a mão de obra de qualidade no mercado.
Os obstáculos citados pelo professor Jacob Palis precisam ser removidos urgentemente, com a redução dos entraves burocráticos e uma mudança de mentalidade, porque conhecimento é um bem universal e dele não podemos prescindir, sobretudo no campo científico. Nos países europeus mais desenvolvidos, a mentalidade é oposta, não importando a nacionalidade do cientista, bastando que ele seja competente e agregue valor.
Dos países emergentes que compõem a sigla BRIC, somos o que menos investe em pesquisa, com cerca de 1,2% do PIB, enquanto a Alemanha, EUA, Japão e Coréia do Sul investem 3% (mais do que o dobro), sem esquecer que, nesses países, ao contrário do que acontece aqui, há um forte aporte de recursos da iniciativa privada no setor.
No “ranking” do Fundo Monetário Internacional (FMI) o Brasil já é o oitavo PIB do planeta. A incapacidade de formar rapidamente profissionais qualificados para os postos de trabalho mais avançados pode frear ou fazer retroceder o ritmo de crescimento econômico do país.
Segundo o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), existe um déficit anual de formação de 20 mil engenheiros. E, de acordo com Jacob Palis, há escassez de matemáticos para tarefas tão distintas quanto traçar o perfil financeiro de um cliente ou aprimorar o desempenho do país na extração de petróleo. O país forma anualmente 150 doutores em matemática e precisa, no mínimo, do dobro disso.
De que adianta ter o bilhete premiado do Pré-Sal, sem autonomia tecnológica para extraí-lo? indaguei, para logo em seguida acrescentar que esse quadro se repete nos diversos segmentos do setor tecnológico-científico, como decorrência do crescimento econômico do país, que corre o risco de retrocesso se esse desafio não for devidamente enfrentado, sem adiamentos, porque não há mais tempo para tal.
Ao final de meu discurso, citei o trabalho do IPEA - que mostrou a gravidade do problema e apontou saídas - e manifestei minha confiança no ministro da Ciência e Tecnologia, Aloísio Mercadante, e na presidente Dilma Rousseff, que certamente acharão os meios e caminhos para o rápido aperfeiçoamento da mão de obra do país. Também apelei aos demais senadores, mais especificamente aos que integram a Comissão de Ciência e Tecnologia, para que se envolvam mais com essa matéria, pois ela é fundamental para o Brasil não retroceder nos avanços expressivos que conquistou nos últimos anos.
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